Não use memes nessas eleições.

Caio Oleskovicz
4 min readAug 17, 2022

Eu sei que o título parece uma voadora de um velho chato e reticente, mas tem lógica e vou tentar explicar.

Durante os últimos seis ou sete anos, experimentamos um momento de polarização e todo mundo tá careca de saber disso. Blá-blá-blá Lula, Bolsonaro, etc. Parece que, “do nada”, todo mundo se enfiou em alguma toca ou bolha política, e o assunto — antes tratado como inacreditavelmente chato — virou referência e polêmica, das mesas de bar à ceia de Natal. Em outras palavras, continua inacreditavelmente chato, mas todo mundo pitaca mesmo assim.

E apesar de retratarem lados diametralmente diferentes, as reações e comunicações de cada público são relativamente similares: há um certo nojo entre os dissidentes, divergentes de opinião. Se antigamente existia uma discordância, muitas vezes implícita em determinado contexto, agora a coisa virou baixaria. Concordo e compreendo que há motivos para isso, mas esse não é o cerne da questão aqui — e poderíamos ficar horas nesse tópico.

O problema é que, por conta disso tudo, nós sentimos não haver exceções nesse meio. Todos já têm seu lado definido e já está tudo resolvido.

Ora, se assim fosse, não haveria necessidade de debate. Mas há. Há quem não sabe ainda em quem vai votar; quem procura por uma terceira via, mas é inegável que ela não terá força para ir a um eventual segundo turno. A maioria é formada pelos indecisos, os que rejeitam os dois polos centrais, e similares.

E é aí que entra o problema. Quando você ataca, desmoraliza, humilha, quem está observando e comendo pipoca sente que VOCÊ é o malvado. Não é sua obrigação explicar nada para ninguém, mas se você não quer fazê-lo, por qual motivo entrou na conversa?

Exato, para ofender. Como isso soa para quem está fora?

As pessoas não se dividem em “bolsonaristas extremos” e “lulistas extremos”, por a maioria ser “indecisa” e, em geral, fica em seu canto. Quando existem ataques fortes contra um lado, parece que a polarização — odiada por tantos — é causada pelo grupo atacante, o que gera repulsa e aproxima as pessoas ao outro lado. Inclusive, essa noção estética é utilizada pelo outro lado para “denunciar”, usando-se de exemplos como cerceamento da “liberdade de expressão” e “cancelamento”, termos comuns que pessoas entendem e acabam por concordar, justamente pela aparência genérica causada e por tantos casos disso ter, de fato, acontecido. Ao atacar quem já é convictamente bolsonarista ou lulista, você não conseguirá mudar a opinião dessa pessoa, mas parecerá ser você quem está “impedindo-o” de falar. O meme acaba unindo quem já concorda com você — a sua bolha —, e eleições são vencidas justamente pelos indecisos, que, de novo, são a maioria.

Entenda uma coisa: é virtualmente impossível mudar a opinião de alguém que já está alinhado com um dos lados.

Você não ganha nada ao ridicularizar quem não concorda com você exceto tapinhas nas costas e retuítes de quem já concorda.

Existe outro fator: o medo de ser chamado de “isentão”, aquele que não se posiciona. Dentro da cartilha da militância política, é obrigatório concordar com absolutamente tudo feito por um lado. Acontece que as pessoas que discordam também pensam assim. Se eu estiver alinhado politicamente com X, tudo que X fez é maravilhoso; tanto a bolha quanto os oponentes dela pensam exatamente dessa forma. Para exemplificar: se eu concordo com Lula, automaticamente concordo com corrupção e até mesmo sou corrupto, uma vez que seu mandato é correlacionável com isso. Da mesma forma, se eu concordo com Bolsonaro, sou à favor da morte das pessoas e anti-vacina, por seu mandato ser correlacionável com isso.

E… sinceramente, ninguém acha nenhuma dessas coisas algo bacana.

Concorda haver um problema nessa ideia geral? Se lados tão visualizam coisas inversas de uma maneira idêntica, é bastante provável que essa maneira seja… duvidosa, no mínimo? Pois então. Novamente, há uma espécie de fumaça que transforma a aparência de algo perfeitamente razoável (ser isento, apolítico, ou ter uma visão conservadora/progressista) em algo absurdo, com associações a coisas mortalmente terríveis, imoral, bizarro. Essa associação de qualquer um que discorde é proposital e reluto pensar que chegamos nela sozinhos.

E se eu sei dessas coisas, pode apostar que a pessoa que você não quer que ganhe também sabe.

Se você quiser apoiar seu lado, a melhor forma de fazê-lo é apoiando-o. Literalmente dizendo em quem você vota já é suficiente. Você pode também explicar por que você tem razão, aliás, esse é o objetivo de todas as discussões. Pode mostrar problemas da administração do adversário ou até mesmo satirizá-lo, xingá-lo. Mas não o faça com pessoas normais que discordam de você. Não adianta chamar de “gado” ou trocar ofensas. Isso só piora as coisas numa visão macro; municia-os.

Antevendo alguns argumentos, não, não sugiro que tratemos os membros do culto Messiânico de maneira branda e amigável. Sugiro que simplesmente os ignoremos. Não ganharemos absolutamente nada em ataques, especialmente mal pensados; pelo contrário. O ponto todo é esse.

E que fique claro que sou anti-bolsonaro e também já fiz várias das coisas que estou criticando — ou melhor, sugerindo a não fazer. É difícil engolir o que não concordamos, o que achamos absurdo. A grande questão é que nós somos marionetes políticas o tempo todo, e muito do que repetimos, militamos e seguimos dentro de uma cartilha acaba favorecendo muito mais outro lado. Autocrítica é fundamental, e essa é a intenção desse texto.

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Caio Oleskovicz

Nefelibata ocasional // Creative Content Writer & SEO Copywriter // Otimista sempre nas horas erradas. Pessimista nas horas erradas também.