Nada acontece. Depois nada…

Caio Oleskovicz
2 min readMar 23, 2022

Acordei numa quinta-feira. Quinta é um dia corrido. Sexta, mal-e-mal os grandes empresários trabalham, então quinta é o dia para tomar decisões que eles não tomam nas sextas.

Vesti minhas meias e, antes de por o sapato, chequei minha caixa de mensagens. Nada. Absolutamente ninguém precisava de mim para nada. Apesar disso dar um certo alívio, também põe certa pressão. “Por que ninguém precisa de mim? Sempre precisam”.

Antes de sair, como sempre, tomei duas xícaras de café. É o que é necessário para aguentar as pressões de manhã. Duas xícaras, café espresso, daqueles com bastante cafeína (8mgx25ml, eu acho?).

Cheguei na empresa e não tinha ninguém. Oi?

Assumi meu posto como todos os dias. Chequei os emails, algo completamente sem sentido, porque tenho os emails conectados no meu celular pessoal. “Vai que é bug…”. Nada. Absolutamente nada.

Liguei para alguns fornecedores. Ninguém me atendeu. Não vou deixar mensagem, claro, pensei eu. Ligo mais tarde. Pensei que por algum motivo hoje todo mundo (menos eu) resolveu acordar depois. Tô sozinho no escritório, não tem nada para fazer. Abro o Hearthstone, que instalei clandestinamente, e que venham os problemas.

Joguei bastante o joguinho de cartas e deu 6 da tarde. Ninguém me ligou. Ninguém me respondeu. Ninguém mandou o contrato que eu esperava. Ninguém me criticou. Nada aconteceu.

Fui pra casa. Não sei se esse dia foi bom ou ruim, mas tendia a pensar que foi péssimo. Não consigo dormir. Alguma coisa aconteceu.

Acordo no outro dia, após dormir pouquíssimo, checando o celular, esperando mensagens.

Nada.

Vou para o trabalho, pensando em xingar o cara do TI porque meus emails não sincronizavam. Bem, ele não estava lá. Nem ele, nem os emails. Nada aconteceu. De novo.

Não liguei o Hearthstone dessa vez. Liguei para todo mundo. Para meus chefes. Para meus subordinados. Ninguém atendia e nem respondia. Parecia que eu tinha cometido um erro bizarro e por isso todos estavam simplesmente se recusando a falar comigo.

Em desespero, liguei para minha mãe — mas o celular estava desligado.

Fui para casa em completo transtorno, imaginando o que tinha causado tudo isso. Não me parecia ser normal. Deitei para dormir e, por exaustão, apaguei.

Acordei domingo. 27 chamadas perdidas. Atendi às 3 e meia da manhã um cliente lá da China, muito, muito irritado.

Sorri e mandei ele à merda.

Essa vida não é para mim.

(esse é um texto fictício, obviamente, e escrito no dia 8/09/15, sobre a minha vida como consultor financeiro. Não basta falar que tomei guinadas e guinadas desde então)

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Caio Oleskovicz

Nefelibata ocasional // Creative Content Writer & SEO Copywriter // Otimista sempre nas horas erradas. Pessimista nas horas erradas também.